A manhã é um verbo hesitante. O Metro é todo o tempo que o devora. Os seus olhos, perdidos na emancipação do dia, revelavam as carícias do seu segredo carnal. Verdes, como uma campina viçosa, as suas pupilas despertaram, em mim, uma súbita sociabilidade de tudo ser para que o seu corpo elegante, os seus lábios, rubros e sóbrios, se esmerassem em um sorriso acolhedor. A substância da vida é uma clara surpresa quando nos coloca diante de um momento festivo que poisa sobre a criação dos pensamentos e desabrocham no sentido estético de um olhar que me absolveu de todos os prantos que o silêncio consome. Acariciei o olhar, despi-me do seu brilho e, viajante urbano, viajei ternurento.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 10 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H10 e as 15H21.
Postado, no blogue, em 10 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H13 e as 16H24.
ETPLURIBUSEPITAPHIUS
ROTEIROS DE SILÊNCIOS.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
segunda-feira, 8 de abril de 2013
CORPO SONETÁRIO - V - POR QUEM SOIS
Por quem sois, clorofórmio de amor
que desta vida nada leva a boca,
nem a cegueira que a oscula, oca,
nem a cerveja que a fisga co´ardor.
Por quem sois, trepadeira incolor
que toda entrançais por coisa pouca
no vespeiro que a traça esgana louca
ao amante do fausto e da dor.
Por quem sois, que tendes o dom da troça
que atiçais a quem por vós se roça
sob a razão do céu e do decote.
Por quem sois, que sendo farsa e chacota,
vil, derramais, estulta e devota,
o frenesim grotesco do fagote.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 08 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H56 e as 14H08.
Pensado entre as 21H00 do dia 06 de Abril de 2013 e as 23H00 do dia 07 de Abril de 2013, à noite e, em casa. Concluído na Biblioteca Nacional de Lisboa, em 08 de Abril de 2013, entre as 13H56 e as 14H08.
Postado, no bogue, em 08 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H00 e as 15h09
que desta vida nada leva a boca,
nem a cegueira que a oscula, oca,
nem a cerveja que a fisga co´ardor.
Por quem sois, trepadeira incolor
que toda entrançais por coisa pouca
no vespeiro que a traça esgana louca
ao amante do fausto e da dor.
Por quem sois, que tendes o dom da troça
que atiçais a quem por vós se roça
sob a razão do céu e do decote.
Por quem sois, que sendo farsa e chacota,
vil, derramais, estulta e devota,
o frenesim grotesco do fagote.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 08 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H56 e as 14H08.
Pensado entre as 21H00 do dia 06 de Abril de 2013 e as 23H00 do dia 07 de Abril de 2013, à noite e, em casa. Concluído na Biblioteca Nacional de Lisboa, em 08 de Abril de 2013, entre as 13H56 e as 14H08.
Postado, no bogue, em 08 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H00 e as 15h09
quinta-feira, 4 de abril de 2013
EXUBERÂNCIA TARDIA
O rolar tenso nas ruas da cidade desanuvia o ar que respiro, bafo sedento de vida marsupial. Escondido das raivas que os dentes trituram, passo pelo teu olhar sombrio e cravo, nele, o tradicionalismo romântico do amor inesperado. Tens o olhar do passageiro sedentário. Passas, observas e absorves o pássaro instantâneo que fotografas no seu voo de libertino inconsciente. Compreendo que assimilaste a metáfora que sou. Alegre, deslumbro os pensamentos com o sol radioso que, de ti, se desprende. Não falamos, nem conversámos. O diálogo fica para o tempo de solidão. Abraçados, nocturnamente, romperemos pela aurora dos sonhos e desenharemos, em miragens de sentimentos, a realidade de um amor que floresceu por entre as roturas doces de uma exuberância tardia.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 04 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H15 e as 14H48.
Postado, no blogue, em 04 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H53 e as 15H04.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 04 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H15 e as 14H48.
Postado, no blogue, em 04 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H53 e as 15H04.
quarta-feira, 3 de abril de 2013
RITOS POÉTICOS - VII - SOMOS O QUE SOMOS
Caminhamos jovens, velhos,
queixúmes de subtilezas
p´ra apagarmos às tristezas
os cacos dos vis espelhos,
pedaços de carne viva,
segredos de alma cativa
que a Morte nos arquiva
p´ra sermos memórias fúteis
em lavas de tempo, inúteis
por sabermos que a vida
é uma visão esquecida,
boca trémula que grita
contra a dor que nos agita
entre os dedos de uma fera
que devora à noite antiga
a ilusão de uma espera
com a raiva da cantiga
que todo o vento mastiga
para em sonhos de verdade
cuspir o fogo da idade
e sorrir à mão amiga
que afaga a espiga
e nos aquece a vontade
de sermos tudo o que somos
no sumo claro dos gomos.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 03 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H20 e as 14H58.
Postado, no blogue, em 03 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H07 e as 15h26.
queixúmes de subtilezas
p´ra apagarmos às tristezas
os cacos dos vis espelhos,
pedaços de carne viva,
segredos de alma cativa
que a Morte nos arquiva
p´ra sermos memórias fúteis
em lavas de tempo, inúteis
por sabermos que a vida
é uma visão esquecida,
boca trémula que grita
contra a dor que nos agita
entre os dedos de uma fera
que devora à noite antiga
a ilusão de uma espera
com a raiva da cantiga
que todo o vento mastiga
para em sonhos de verdade
cuspir o fogo da idade
e sorrir à mão amiga
que afaga a espiga
e nos aquece a vontade
de sermos tudo o que somos
no sumo claro dos gomos.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 03 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H20 e as 14H58.
Postado, no blogue, em 03 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H07 e as 15h26.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
A MINHA PÁGINA DE FACEBOOK
A vida, em cada dia que passa, revela-nos, na sua face oculta, os moinhos da decadência e da impraticabilidade de uma Liberdade que só a Natureza verdadeiramente possui. Por motivos que só o mistério de uma censura, mesquinha e hipócrita, que se instalou nos canais do digitalismo computorizado, vi-me privado de ter acesso à minha página do Facebook. O caso será divertido para uns quantos seres humanos que se diagnosticam como humanos, sendo, porém, na verdade, não mais do que os defensores desta azia que se vai instalando nos circuitos dos relacionamentos, ditos humanos. Por isso, o caso não é, realmente, uma brincadeira, é uma vergonha tinhosa e própria dos que ostentam a boca suja dos que falam a linguagem disfarçada por uma seriedade que não passa de uma mentira indecorosa e reflectora de uma indigência mental, cuja a afinidade com poderes ocultos lhes permitem barrar, mas não silenciar quem sabe lutar contra os que, sinistramente, se movem nas teias do seu obscurantismo vigarista.
Não me vergo, nem me vendo seja a quem for. A Verdade não é a sua Mentira eterna. O Futuro a confirmará.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 01 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H39 e as 15H09.
Postado, no blogue, em 01 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H34 e as 15H49.
Não me vergo, nem me vendo seja a quem for. A Verdade não é a sua Mentira eterna. O Futuro a confirmará.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 01 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H39 e as 15H09.
Postado, no blogue, em 01 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H34 e as 15H49.
quinta-feira, 28 de março de 2013
CORPO SONETÁRIO - IV - ARTE VIVA
Desconheço a que pranto me assoo,
se ao passado que não se entende,
se ao futuro que nada aprende,
se a este presente a quem me doo.
Reconheço que o canto que entoo
não fabrica o sonho que se vende,
é a realidade que se estende
a toda a arte viva do voo.
E se a génese do caos vigilante
sobreviver ao estado distante,
toda a ética do passo incerto
será o misticismo florescente
e o sopro da cadência decadente
na pestilência do verbo deserto.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
manuscrito de 28 de Março de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H10 e as 14H45
Postado, no blogue, em 28 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H25 e as 14H47.
se ao passado que não se entende,
se ao futuro que nada aprende,
se a este presente a quem me doo.
Reconheço que o canto que entoo
não fabrica o sonho que se vende,
é a realidade que se estende
a toda a arte viva do voo.
E se a génese do caos vigilante
sobreviver ao estado distante,
toda a ética do passo incerto
será o misticismo florescente
e o sopro da cadência decadente
na pestilência do verbo deserto.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
manuscrito de 28 de Março de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H10 e as 14H45
Postado, no blogue, em 28 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H25 e as 14H47.
quarta-feira, 27 de março de 2013
ESTAMINAIS
Para que servem as células estaminais? Não sei, nunca soube, nem nunca o saberei. Serão para que eu não seja o que sou e não padecer o que padecerei quando for o que não sou? A cura e a longevidade são os desejos humanos da fatalidade incómoda que se contorce nos tentáculos da consciência metafórica.
As células são o que são e o metabolismo da existência é o suporte básico da infinitude que todos lambem quando o ridículo da essência é um quadro de complexidades que não revela a verticalidade dos seus sentidos.
Passeamos incólumes pelas veredas do Futuro, movidos eolicamente pelas impressões digitais da ciência que nos acoberta com as ambições do irracionalismo que nos racionaliza as metamorfoses do olhar, e, candidamente, nos reveste o halo dos sentidos com as dúvidas psicológicas das carências afectivas e nos agita a mediocracia dos actos falidos com a relevância do visualismo decrépito.
Seremos um dia, imortais? O imortalismo é a febre catastrófica do simbolismo anacrónico. Sedentos da gravidade espacial, inventamos aos conceitos da gravidade promocional, a estabilidade motora do consumismo absoluto que nos protege, ferozmente, da decadência e dessa realidade que nos move com pezinhos de lã e nos enterra, profundamente, na enfermidade antropológica do evolucionismo que nos transforma em deuses dos crepusculos universais.
Eu rimo ciência com essência e disseco os poros da juventude com as pinças microcópicas das experiências inolvidáveis, realizadas no apogeu das alergias bucólicas. Invoco as células estaminais em nome da grandeza humana e em nome do artifício que envolve o rastreio das preces que perjuram a castidade da complexidade universal.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 30 de Outubro de 2011, escrito no Centro Cultural de Belém.
Revisto e postado, no blogue, em 27 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H30 e as 15H50.
As células são o que são e o metabolismo da existência é o suporte básico da infinitude que todos lambem quando o ridículo da essência é um quadro de complexidades que não revela a verticalidade dos seus sentidos.
Passeamos incólumes pelas veredas do Futuro, movidos eolicamente pelas impressões digitais da ciência que nos acoberta com as ambições do irracionalismo que nos racionaliza as metamorfoses do olhar, e, candidamente, nos reveste o halo dos sentidos com as dúvidas psicológicas das carências afectivas e nos agita a mediocracia dos actos falidos com a relevância do visualismo decrépito.
Seremos um dia, imortais? O imortalismo é a febre catastrófica do simbolismo anacrónico. Sedentos da gravidade espacial, inventamos aos conceitos da gravidade promocional, a estabilidade motora do consumismo absoluto que nos protege, ferozmente, da decadência e dessa realidade que nos move com pezinhos de lã e nos enterra, profundamente, na enfermidade antropológica do evolucionismo que nos transforma em deuses dos crepusculos universais.
Eu rimo ciência com essência e disseco os poros da juventude com as pinças microcópicas das experiências inolvidáveis, realizadas no apogeu das alergias bucólicas. Invoco as células estaminais em nome da grandeza humana e em nome do artifício que envolve o rastreio das preces que perjuram a castidade da complexidade universal.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 30 de Outubro de 2011, escrito no Centro Cultural de Belém.
Revisto e postado, no blogue, em 27 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H30 e as 15H50.
RITOS POÉTICOS - VI - POR SER O QUE SOU
Cansado de ser quem sou,
uma ave de mil ventos
que o sonho alugou
à bigorna dos talentos,
não Édipo, mas amplexo
da visão que o cegou
e o ferreto complexo
que Agripina gerou
ao molhar-se na idade
do tempo que se inventa
por ser a boca sedenta
da morte que é a verdade
no mistério da mentira
e na sua festa de peste
onde a rolha não respira
e o vinho é agreste.
Farto das grades que visto,
roubo a Ícaro, as asas,
e, a Narciso, a vaidade,
p´ra que na queda das brasas
sinta o fogo de Cristo
e o diabo da santidade.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 18 de Setembro de 2011, escrito na carreira 727 da Carris e na Dolce Vita.
Revisto e postado, em 27 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 12H56 e as 13h17.
uma ave de mil ventos
que o sonho alugou
à bigorna dos talentos,
não Édipo, mas amplexo
da visão que o cegou
e o ferreto complexo
que Agripina gerou
ao molhar-se na idade
do tempo que se inventa
por ser a boca sedenta
da morte que é a verdade
no mistério da mentira
e na sua festa de peste
onde a rolha não respira
e o vinho é agreste.
Farto das grades que visto,
roubo a Ícaro, as asas,
e, a Narciso, a vaidade,
p´ra que na queda das brasas
sinta o fogo de Cristo
e o diabo da santidade.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 18 de Setembro de 2011, escrito na carreira 727 da Carris e na Dolce Vita.
Revisto e postado, em 27 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 12H56 e as 13h17.
terça-feira, 26 de março de 2013
UM DESERTO UMA FLOR
No vácuo, hermeticamente minúsculo, que vagueia no espaço crepuscular da minha face encefálica, flutua, em uma projecção absurda, um deserto de dimensões arrepiantes.
Lá, onde o vento e a areia pardacenta arquitectam dunas de memórias, gastas pelo silêncio da incomunicabilidade; lá, onde a Terra e o Sol, esquecidos nas cinzas da noite, deliram, por entre imagens imperceptíveis de um Futuro impaciente; lá, onde um camelo universal arrasta, na sede controlada do seu peso quotidiano, o desespero de uma solidão permanente; lá, onde o meu corpo invisível é uma sombra austera, enraízada nas gotículas do tempo; lá, onde nesse deserto, profundamente aberto ao silêncio da vida, respirou essa aurora, grandeza única, de um milagre ocasional. Uma flor, natural e fresca, como uma fonte de água pura, jorrou como uma lâmina, refulgindo no mármore da madrugada, para desafiar o exílio de um tempo em ruínas. Uma religião de multiplicidades magníficas, inesperada e tranquila, cresceu à volta do seu silêncio de fragrâncias refrescantes.
No vento, ouvi eu, o canto das palavras dedilhando as pétalas rubras das suas asas voando em liberdade.
Na areia pardacenta, ouvi eu, a música dos seus poros, bebendo o orvalho que se desprendia da liberdade, na alegia do seu movimento.
No Sol, vi eu, o fogo que corria nas veias de uma vida florescida da terra, como o sangue de um amor, puro e rejuvenescido. E o camelo, esse vagabundo de formas distantes, esse viajante incansável de escravaturas seculares, mecanicamente palmilhando labirintos inóspitos, subitamente, por ali se quedou, como que petrificado, perante tão ofuscante beleza.
Eu, adormecido e domesticado pela raiz da minha própria semente, acordei sob a força natural do seu grito selvagem, rasgando a sombra do meu estrume, para criar essa raiva que destrói a um ventre inútil de um corpo, esse sonho ímpar, moldado pelos dedos finíssimos da poeira itemporal.
A flor abraçou a noite como a fogueira que baila por entre as sombras do horizonte nocturno, sorrindo à sonolência que nos consumia e aos farrapos da luz que lhe definhavam o encanto. Da aurea matinal ao crepúsculo de todos os sentidos, por ali ficámos, mudos no espanto, mortos pelo encanto do sonho.
Sob a visibilidade dos primeiros sinais de uma madrugada inofensiva, os sentidos do silêncio revelaram a invisibilidade da harmonia que nos abrigara. Um sabor amargo desidratou-nos o olhar, asfixiou-nos a claridade dos sorrisos e acendeu as sombras equívocas do horizonte inóspito. O Sol inflamou-se em um imenso riso de fogo e espelhou no vento as cinzas lancetadas pelo moinho das sedes inconformadas. A poeira temporal da areia pardacenta, que se avistava infinita, ergueu-se estarrecida, em uma violência de violências, para estrangular a revolta à solidão da sua revolta.
A Terra...A Terra...Àrida como uma rocha polida pelo escopro do tempo, suporta o cansaço desse velho camelo, pisando a longa, penosa e indeterminável lenda de nómado; e, eu, súbito corpo de noites invioláveis, explodi em uma fonte de ódio, talvez loucura. Reguei aquele deserto com a força inesgotável das minhas lágrimas, até o descobrir, submerso, no algodão da eternidade.
Porém, lá bem no fundo, em um minúsculo ponto, muito obscuro, gira incontrolável, um deserto, uma flor, um deserto, uma flor...
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Ortiginal copiado de manuscrito de 15 de Março de 2006, escrito em casa.
Revisto e postado, no blogue, em 26 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H42 e as 14h30.
Lá, onde o vento e a areia pardacenta arquitectam dunas de memórias, gastas pelo silêncio da incomunicabilidade; lá, onde a Terra e o Sol, esquecidos nas cinzas da noite, deliram, por entre imagens imperceptíveis de um Futuro impaciente; lá, onde um camelo universal arrasta, na sede controlada do seu peso quotidiano, o desespero de uma solidão permanente; lá, onde o meu corpo invisível é uma sombra austera, enraízada nas gotículas do tempo; lá, onde nesse deserto, profundamente aberto ao silêncio da vida, respirou essa aurora, grandeza única, de um milagre ocasional. Uma flor, natural e fresca, como uma fonte de água pura, jorrou como uma lâmina, refulgindo no mármore da madrugada, para desafiar o exílio de um tempo em ruínas. Uma religião de multiplicidades magníficas, inesperada e tranquila, cresceu à volta do seu silêncio de fragrâncias refrescantes.
No vento, ouvi eu, o canto das palavras dedilhando as pétalas rubras das suas asas voando em liberdade.
Na areia pardacenta, ouvi eu, a música dos seus poros, bebendo o orvalho que se desprendia da liberdade, na alegia do seu movimento.
No Sol, vi eu, o fogo que corria nas veias de uma vida florescida da terra, como o sangue de um amor, puro e rejuvenescido. E o camelo, esse vagabundo de formas distantes, esse viajante incansável de escravaturas seculares, mecanicamente palmilhando labirintos inóspitos, subitamente, por ali se quedou, como que petrificado, perante tão ofuscante beleza.
Eu, adormecido e domesticado pela raiz da minha própria semente, acordei sob a força natural do seu grito selvagem, rasgando a sombra do meu estrume, para criar essa raiva que destrói a um ventre inútil de um corpo, esse sonho ímpar, moldado pelos dedos finíssimos da poeira itemporal.
A flor abraçou a noite como a fogueira que baila por entre as sombras do horizonte nocturno, sorrindo à sonolência que nos consumia e aos farrapos da luz que lhe definhavam o encanto. Da aurea matinal ao crepúsculo de todos os sentidos, por ali ficámos, mudos no espanto, mortos pelo encanto do sonho.
Sob a visibilidade dos primeiros sinais de uma madrugada inofensiva, os sentidos do silêncio revelaram a invisibilidade da harmonia que nos abrigara. Um sabor amargo desidratou-nos o olhar, asfixiou-nos a claridade dos sorrisos e acendeu as sombras equívocas do horizonte inóspito. O Sol inflamou-se em um imenso riso de fogo e espelhou no vento as cinzas lancetadas pelo moinho das sedes inconformadas. A poeira temporal da areia pardacenta, que se avistava infinita, ergueu-se estarrecida, em uma violência de violências, para estrangular a revolta à solidão da sua revolta.
A Terra...A Terra...Àrida como uma rocha polida pelo escopro do tempo, suporta o cansaço desse velho camelo, pisando a longa, penosa e indeterminável lenda de nómado; e, eu, súbito corpo de noites invioláveis, explodi em uma fonte de ódio, talvez loucura. Reguei aquele deserto com a força inesgotável das minhas lágrimas, até o descobrir, submerso, no algodão da eternidade.
Porém, lá bem no fundo, em um minúsculo ponto, muito obscuro, gira incontrolável, um deserto, uma flor, um deserto, uma flor...
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Ortiginal copiado de manuscrito de 15 de Março de 2006, escrito em casa.
Revisto e postado, no blogue, em 26 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H42 e as 14h30.
segunda-feira, 25 de março de 2013
CORPO SONETÁRIO - III - OLHAR PÉTREO
Enterraste uma pedra no olhar,
essa bússola de conchas sem dedos
que escreve na areia dos medos
a ausência de um norte, do mar.
E as palavras que a espuma sonhar
por entre as volúpias dos segredos
são esmolas na boca dos enredos,
a melodia suave do luar.
E se o doce encanto da bigorna
modelar a pedra que te adorna
o olhar com um lamento hostil,
as arestas iriantes de um sorriso
libertarão a noite de Narciso
e, vibrantes, criam o amor febril.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 24 de Março de 2013, escrito nas Avenidas António Augusto Aguiar, da Liberdade e no Comboio da Linha de Cascais, às 19H45, às 20H21 e entre as 20H40 e as 21H05.
Revisto e postado, em 25 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H56 e as 17H03.
essa bússola de conchas sem dedos
que escreve na areia dos medos
a ausência de um norte, do mar.
E as palavras que a espuma sonhar
por entre as volúpias dos segredos
são esmolas na boca dos enredos,
a melodia suave do luar.
E se o doce encanto da bigorna
modelar a pedra que te adorna
o olhar com um lamento hostil,
as arestas iriantes de um sorriso
libertarão a noite de Narciso
e, vibrantes, criam o amor febril.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 24 de Março de 2013, escrito nas Avenidas António Augusto Aguiar, da Liberdade e no Comboio da Linha de Cascais, às 19H45, às 20H21 e entre as 20H40 e as 21H05.
Revisto e postado, em 25 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H56 e as 17H03.
RITOS POÉTICOS - V - FILOSOFIA DOS PRECÁRIOS
Na fil´sofia dos precários
há o bonjour e o adeus
à vaidade dos sectários
e à revolta dos plebeus
que, defronte de um archote,
são o resumo e o troféu
de quem despe o dichote
e veste o duche do réu
que são alarmes de vidas
e consumos de aforismos
das gargantas iludidas,
de quem formula cinismos.
A fil´sofia não se rende
ao abstracto, ao absurdo,
ao coice de um grito surdo,
é um vírus que se estende
entre o sentido das bóias
e a herança das gibóias
que atropelam os sustos,
rindo-se dos velhos bustos
p´lo simples prazer de rir
sob os prantos do porvir.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 26 de Setembro de 2011, escrito na Cinemateca Portuguesa.
Revisto e postado, em 25 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H37 e as 14h49.
há o bonjour e o adeus
à vaidade dos sectários
e à revolta dos plebeus
que, defronte de um archote,
são o resumo e o troféu
de quem despe o dichote
e veste o duche do réu
que são alarmes de vidas
e consumos de aforismos
das gargantas iludidas,
de quem formula cinismos.
A fil´sofia não se rende
ao abstracto, ao absurdo,
ao coice de um grito surdo,
é um vírus que se estende
entre o sentido das bóias
e a herança das gibóias
que atropelam os sustos,
rindo-se dos velhos bustos
p´lo simples prazer de rir
sob os prantos do porvir.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 26 de Setembro de 2011, escrito na Cinemateca Portuguesa.
Revisto e postado, em 25 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H37 e as 14h49.
quarta-feira, 20 de março de 2013
RITOS POÉTICOS - IV - CANTILENA
Na filosofia do gesso
a Razão vira do avesso
quem nasceu por acaso
em fundos de prato raso,
em figuras de estilos,
nas cantilenas dos grilos
que não se cansam de rugas
nem do peso que alugas
aos factos do corpo velho
e aos pactos da quietude
que, ao nada, aconselho
e, ao tudo, que mude
sob alarmes de pujança
e rituais de elegância
que, na profunda esperança,
são esperas de arrogância.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 25 de Setembro de 2011, escrito no El Corte Inglês.
Revisto e postado, em 20 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H28 e as 15H36.
a Razão vira do avesso
quem nasceu por acaso
em fundos de prato raso,
em figuras de estilos,
nas cantilenas dos grilos
que não se cansam de rugas
nem do peso que alugas
aos factos do corpo velho
e aos pactos da quietude
que, ao nada, aconselho
e, ao tudo, que mude
sob alarmes de pujança
e rituais de elegância
que, na profunda esperança,
são esperas de arrogância.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 25 de Setembro de 2011, escrito no El Corte Inglês.
Revisto e postado, em 20 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H28 e as 15H36.
BURLESCO
Sou ugly no espelho da manhã, diariamente, que sei eu? Abro, aos olhos da sonolência vadia, as cortinas do tempo, e absorvo os fotogramas solares que me beijam a pele nua. É uma sensação agradável que se mistura com o sentido desagradável dos caminhos perpétuos que palmilho sob a sofreguidão desta idade que me espezinha o limite das fronteiras onde habito e desfruto da pigmentação que me harmoniza a instabilidade emocional. Abro o chuveiro da irrealidade, e, realisticamente, esfrego o corpo com o sabonete do rejuvenescimento, despedindo-me das dores que me corroem a integridade, física e mental. Sou o pavio aceso de um fósforo apagado, e espalho a luz da minha consciência pelas hipérboles nocturnas do tecido carnal que expôem, à espiral do desejo, as colheres vitaminadas com as delícias orgânicas do tempo que, vivificadoras, me decompôem a acidez portuária da existência, cujo fluxo é a degeneração desta vida filtrada pelos poros da suavidade burlesca. Ugly, burlesco, que melhor sentido se pode oferecer ao sentidos que sem sentido tudo sentem.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 01 de Novembro de 2011, escrito no Centro Cultural de Belém.
Revisto e postado, em 20 de Março de 2013, na Biblioteca de Lisboa, entre as 13H47 e as 14H09.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 01 de Novembro de 2011, escrito no Centro Cultural de Belém.
Revisto e postado, em 20 de Março de 2013, na Biblioteca de Lisboa, entre as 13H47 e as 14H09.
segunda-feira, 18 de março de 2013
CORPO SONETÁRIO - II - SINTÉTICO
Toda a vida é um desejo irónico
nesse lugar onde nada se toca
e onde todo o silêncio sufoca
p´ra que a linguagem seja um tónico.
Somos viajantes de um Futuro biónico
e decadentes na pressa que soca
este pisar a verdade que choca
todo o tempo de ser desarmónico.
Alheados, habitamos vitrolas
manejando, inóspitos, consolas,
desconsolos de um consolo estético
que é um manifesto de demências
festejando palavras de ausências
como se fossem um fragor sintético.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 17 de Março de 2013, escrito no Bar Terraço do Centro Cultural de Belém, entre as 16H02 e as 16H30.
Postado, em 18 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H13 e as 15H22.
nesse lugar onde nada se toca
e onde todo o silêncio sufoca
p´ra que a linguagem seja um tónico.
Somos viajantes de um Futuro biónico
e decadentes na pressa que soca
este pisar a verdade que choca
todo o tempo de ser desarmónico.
Alheados, habitamos vitrolas
manejando, inóspitos, consolas,
desconsolos de um consolo estético
que é um manifesto de demências
festejando palavras de ausências
como se fossem um fragor sintético.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 17 de Março de 2013, escrito no Bar Terraço do Centro Cultural de Belém, entre as 16H02 e as 16H30.
Postado, em 18 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H13 e as 15H22.
NA FLUIDEZ DE UMA CHAMA AMANTE
Sentado, no 39 Degraus da Cinemateca Portuguesa, ouço o gongue que anuncia o início de mais uma das suas sessões. O som transporta-me a um destes dias em que seguia no Metro da Linha Azul, batia a noite o seu turno. A composição parou na Estação da Avenida. Dela, saiu uma jovem de cabelo encaracolado, blusa esverdeada e calça de ganga. Parou defronte de uma das janelas do Metro e, com o olhar inundado de tristeza, enviava, com as pontas dos dedos, beijos soltos de saudades súbitas, a saltitarem de frescuras imensas. Sem que pudesse evitar, fui contagiado pela tristeza e embalsamei, no meu olhar, Cupidos do tempo em que amei amores que não sei. A separação denotava desejos de uma união que se fortalecia na coragem de viver cada minuto, cada segundo, os pequenos e eternos prazeres de abraçar os abraços da ternura e de beijar os beijos das suas intimidades. Só se avalia um adeus quando as portas de uma despedida se abrem à solidão do silêncio. Parte-se para um destino concreto, embrulhado em palavras de segredos e mistérios que acondicionam o regresso ao parque dos sonhos que nascem e reconfortam o corpo entre os lençóis de uma ausência, distância imaginária que, em um dia qualquer, levantará o nevoeiro que paira sobre a fluidez de uma chama amante que amanhece ao entardecer.
Estas sequências de um filme que se repetem em muitas sessões, são, inúmeras vezes, pausas de um tempo que escapam aos seus enquadramentos, ameaçando as debilidades da sensibilidade amorosa com a secura de paisagens que amolecem em fade out, transcendendo as realidades com os subúrbios dos esquecimento, dos abandonos que ferem e desarmam todo um futuro que, subitamente, é passado. O Metro reacendeu a sua circulação e, com ele, recomeçou o ciclo das vidas dos que nele ficaram. Observei a agilidade do tempo que, no seu bojo, transporta milhares de actores que representam o seu papel neste grande palco da vida que veste o universo com as partículas da nossa nanoenergia. Somos amantes, amados ou não, porque esse é o ritmo do nosso coração.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 20 de Setembro de 2011, escrito na Cinemateca Portuguesa.
Corrigido e postado, em 18 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 12H43 e as 13H17.
Estas sequências de um filme que se repetem em muitas sessões, são, inúmeras vezes, pausas de um tempo que escapam aos seus enquadramentos, ameaçando as debilidades da sensibilidade amorosa com a secura de paisagens que amolecem em fade out, transcendendo as realidades com os subúrbios dos esquecimento, dos abandonos que ferem e desarmam todo um futuro que, subitamente, é passado. O Metro reacendeu a sua circulação e, com ele, recomeçou o ciclo das vidas dos que nele ficaram. Observei a agilidade do tempo que, no seu bojo, transporta milhares de actores que representam o seu papel neste grande palco da vida que veste o universo com as partículas da nossa nanoenergia. Somos amantes, amados ou não, porque esse é o ritmo do nosso coração.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 20 de Setembro de 2011, escrito na Cinemateca Portuguesa.
Corrigido e postado, em 18 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 12H43 e as 13H17.
sexta-feira, 15 de março de 2013
RITOS POÉTICOS - III - CÂNTICO
Se soubesse tocar piano
em teclas de cor e amor.
Mozart, Pança e Cervantes
à Lua de velhos amantes
que Ulysses foge à dor
e, eu, que alguém me abrace
antes que a foz me enlace.
Se te soubesse tocar
na grande noite do Fado
Bocage, Lorca, Brel
à garupa do corcel
que Troia perde a domar
e que eu venci, derrotado,
p´lo samba da nota só
que ouço na foz do Pó.
Se alguma vez te amei
no prazer da lucidez
Hiroshima meu amor
foi no riso do pavor
e se humano serei
nas sonatas da avidez
ao consolo me arrendo
e do erro me arrependo
O espanto que espanta
esta pergunta que sou
nesse uivo que nos rega
com a lava da entrega
à Odisseia que nos decanta
a epopeia que se julgou
entre o bolbo da perda
e a Pompeia que se herda.
Este afago que inauguro
à exposição do amor
é a serpente emplumada
da face mais descarnada
que implora ao que murmuro
o solfejo do ardor
que em pautas de festejos
funde a área dos desejos.
Se eu fosse o estranho
que arrola o desdém
Verde, Camus e Vam Gogh
Orelhas que ouvem no fog
o balido do rebanho
e o sertão de ninguém
onde, nada, é o tudo
e, a boca, o olhar mudo.
Se te ouvisse sem ouvir
o cardume da cegueira,
Dali, Warhol e Bilal,
traços da seara oral
no vespeiro do porvir
e no ar puído da feira
onde a verdade se vende
p´la mentira que se aprende.
A notícia soa febril
nos passageiros do vento
que no lastro da penúria
larga o som e a fúria
de quem se torna hostil
nos abismos do tormento
onde os rebeldes sem causas
são as síncopes das pausas.
Se eu engomasse, romântico,
as velhas dobras do ciúme
Woodys, Whitman e Homero
seriam tudo o que espero
dos filhos do ego quântico
e nas memórias do gume
que dilaceram a dor
e prescrevem o amor.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 01/02/05/14 de Outubro de 2011, escrito no Centro Cultural de Belém, na carreira 728 da Carris, na Estação do Oriente, no El Corte Inglês e na BNL com a denominação de POEMA XC.
Postado, em 15 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 12H47 e as 13H18.
em teclas de cor e amor.
Mozart, Pança e Cervantes
à Lua de velhos amantes
que Ulysses foge à dor
e, eu, que alguém me abrace
antes que a foz me enlace.
Se te soubesse tocar
na grande noite do Fado
Bocage, Lorca, Brel
à garupa do corcel
que Troia perde a domar
e que eu venci, derrotado,
p´lo samba da nota só
que ouço na foz do Pó.
Se alguma vez te amei
no prazer da lucidez
Hiroshima meu amor
foi no riso do pavor
e se humano serei
nas sonatas da avidez
ao consolo me arrendo
e do erro me arrependo
O espanto que espanta
esta pergunta que sou
nesse uivo que nos rega
com a lava da entrega
à Odisseia que nos decanta
a epopeia que se julgou
entre o bolbo da perda
e a Pompeia que se herda.
Este afago que inauguro
à exposição do amor
é a serpente emplumada
da face mais descarnada
que implora ao que murmuro
o solfejo do ardor
que em pautas de festejos
funde a área dos desejos.
Se eu fosse o estranho
que arrola o desdém
Verde, Camus e Vam Gogh
Orelhas que ouvem no fog
o balido do rebanho
e o sertão de ninguém
onde, nada, é o tudo
e, a boca, o olhar mudo.
Se te ouvisse sem ouvir
o cardume da cegueira,
Dali, Warhol e Bilal,
traços da seara oral
no vespeiro do porvir
e no ar puído da feira
onde a verdade se vende
p´la mentira que se aprende.
A notícia soa febril
nos passageiros do vento
que no lastro da penúria
larga o som e a fúria
de quem se torna hostil
nos abismos do tormento
onde os rebeldes sem causas
são as síncopes das pausas.
Se eu engomasse, romântico,
as velhas dobras do ciúme
Woodys, Whitman e Homero
seriam tudo o que espero
dos filhos do ego quântico
e nas memórias do gume
que dilaceram a dor
e prescrevem o amor.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 01/02/05/14 de Outubro de 2011, escrito no Centro Cultural de Belém, na carreira 728 da Carris, na Estação do Oriente, no El Corte Inglês e na BNL com a denominação de POEMA XC.
Postado, em 15 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 12H47 e as 13H18.
quinta-feira, 14 de março de 2013
NUM CAFÉ À BEIRA-MAR
Estava sentado a um canto de um pequeno café, junto do mar. Eram 20H50. Não me apetecia jantar. O coração batia-me com a força das marés vivas, socando com violência a pequena praia que semeava o café. Os meus olhos que atravessavam as janelas forradas de pó, fuzilavam o horizonte como se fossem um Goya transtornado. Desenhei um rosto no vidro da janela. Um rosto sem olhos, sem boca, um rosto lixado pelo esterco e pelas garras afiadas do meu cérebro, afogueadas que estavam pelas pulsões do seu lixo.
Uma empregada magricela abeirou-se da minha mesa e perguntou-me, delicadamente, se desejava alguma coisa. Investiguei a minha fome que, rapidamente, descobri ser nenhuma, mas, mesmo assim, pedi um mini prato de borrego e um copo de sangria. Momentaneamente, apeteceu-me apanhar uma bebedeira e, depois, estender-me na areia molhada, untando-me com a vingança de uma razão apodrecida.
A magricela trouxe-me o ensopado e, eu, senti-me, subitamente, enjoado. O molho era hediondo, o borrego, mais osso do que carne, e as batatas eram novas. Cretinice, a minha, por me ter lembrado de comer naquela espelunca. Sobrou a sangria que me estancou os palavrões murmurados entredentes. Afundei-me, nela, sem me preocupar com os resultados. Bebi um café com cheirinho e paguei a conta. Um fortuna por uma provocação daquelas. Saí do café e fui, de imediato, lambido por uma língua de ar frio. Tinha urgência em acalmar as baforadas violentas que boiavam no meu corpo. Que se lixasse o frio, e, sem pensar em mais nada, despi-me e mergulhei nas águas geladas do mar. O corpo vibrou como se fosse um caniço ao vento. Nadei como uma enguia e, instantaneamente, a depressão que me afogava o cérebro diluiu-se como a espuma do mar. Aproveitei o impulso de uma onda maior e deixei que o corpo rebolasse pela areia, como se a minha nudez se estendesse sobre um colchão de plumas. Levantei-me, fiz um footing curto, abastecendo o corpo com os suores revoltados de uma vida sem afinações. Vesti-me, subi a pequena escada que ligava a praia ao pequeno parque de estacionamente onde se encontrava o meu velho Fiat Uno. A noite era um calafrio nos olhos das minhas ventas e o vento empurrava-me para Sul, quando devia seguir para Norte. Que destino sem norte, pensei eu, rasgando a noite com os farois de um tempo que nada me dizia.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 16 de Novembro de 2011, escrito na Dolce Vita do Monumental.
Postado, originalmente, na Biblioteca Nacional de Lisboa, em 22 de Novembro de 2011.
Postado e revisto, em 14 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H17 e as 14H04.
Uma empregada magricela abeirou-se da minha mesa e perguntou-me, delicadamente, se desejava alguma coisa. Investiguei a minha fome que, rapidamente, descobri ser nenhuma, mas, mesmo assim, pedi um mini prato de borrego e um copo de sangria. Momentaneamente, apeteceu-me apanhar uma bebedeira e, depois, estender-me na areia molhada, untando-me com a vingança de uma razão apodrecida.
A magricela trouxe-me o ensopado e, eu, senti-me, subitamente, enjoado. O molho era hediondo, o borrego, mais osso do que carne, e as batatas eram novas. Cretinice, a minha, por me ter lembrado de comer naquela espelunca. Sobrou a sangria que me estancou os palavrões murmurados entredentes. Afundei-me, nela, sem me preocupar com os resultados. Bebi um café com cheirinho e paguei a conta. Um fortuna por uma provocação daquelas. Saí do café e fui, de imediato, lambido por uma língua de ar frio. Tinha urgência em acalmar as baforadas violentas que boiavam no meu corpo. Que se lixasse o frio, e, sem pensar em mais nada, despi-me e mergulhei nas águas geladas do mar. O corpo vibrou como se fosse um caniço ao vento. Nadei como uma enguia e, instantaneamente, a depressão que me afogava o cérebro diluiu-se como a espuma do mar. Aproveitei o impulso de uma onda maior e deixei que o corpo rebolasse pela areia, como se a minha nudez se estendesse sobre um colchão de plumas. Levantei-me, fiz um footing curto, abastecendo o corpo com os suores revoltados de uma vida sem afinações. Vesti-me, subi a pequena escada que ligava a praia ao pequeno parque de estacionamente onde se encontrava o meu velho Fiat Uno. A noite era um calafrio nos olhos das minhas ventas e o vento empurrava-me para Sul, quando devia seguir para Norte. Que destino sem norte, pensei eu, rasgando a noite com os farois de um tempo que nada me dizia.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 16 de Novembro de 2011, escrito na Dolce Vita do Monumental.
Postado, originalmente, na Biblioteca Nacional de Lisboa, em 22 de Novembro de 2011.
Postado e revisto, em 14 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H17 e as 14H04.
quarta-feira, 13 de março de 2013
CORPO SONETÁRIO - I - PROFETAS
Neste estado de revolta aguda
há sinais de sadismo sedentário
contra os velórios do corpo agrário
que nem a sede do tempo escuda.
E por muito que a refrega ossuda
cinja Esparta à fome gregária,
há os ciclos da mesa perdulária
que nem a ciência vulgar estuda.
Numa escola de profetas atentos
há profecias de amargos lamentos
que Atena, vaga em doces afectos,
jaz, precária, em talentos de vida,
e, expulsa, da purga esquecida,
a sabedoria voraz dos insectos.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Postagem do manuscrito de 12 e 13 de Março de 2013, escrito no Comboio da Linha de Cascais, entre as 21H00 e as 11H47 de 13 e concluído na Biblioteca Nacional de Lisboa, em 13, entre as 14H07 e as 14H17.
Postado no blogue, em 13 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 17H14 e as 17H24.
há sinais de sadismo sedentário
contra os velórios do corpo agrário
que nem a sede do tempo escuda.
E por muito que a refrega ossuda
cinja Esparta à fome gregária,
há os ciclos da mesa perdulária
que nem a ciência vulgar estuda.
Numa escola de profetas atentos
há profecias de amargos lamentos
que Atena, vaga em doces afectos,
jaz, precária, em talentos de vida,
e, expulsa, da purga esquecida,
a sabedoria voraz dos insectos.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Postagem do manuscrito de 12 e 13 de Março de 2013, escrito no Comboio da Linha de Cascais, entre as 21H00 e as 11H47 de 13 e concluído na Biblioteca Nacional de Lisboa, em 13, entre as 14H07 e as 14H17.
Postado no blogue, em 13 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 17H14 e as 17H24.
NA ESTAÇÃO DO METRO DO MARQUÊS DO POMBAL
Estou sentado em um dos bancos da Estação do Metro do Marquês do Pombal. São 20H05. Dentro do meu cérebro computorizado nasce o debate entre uma solidão que tudo aniquila à minha volta e o Moby que estabelece com as minhas entranhas mais profundas um sentido de sorrir a uma amante imaginária que se veste com a intimidade de uma ternura, que se despe e que se abraça a um tempo em que tudo era simples: o amor de amar, os lábios de uma flor que se respiram e o perfume que se bebe à pele do corpo que nos delira a afeição, a postura amorosa da meiguice desejada.
A solidão é este estado de imobilidades momentâneas que subvertem os rituais da vida, que se transformam em jogos de inseguranças, sem linhas transitórias, sem abafos que me resguardem deste frio interior que roça o âmago da alma que se esconde algures no cemitério das infâncias onde ela, bêbada de vida, resmunga contra os sentimentos da solidão que detesta, por saber que as duas são gémeas do destino que as vitima nos abraços solidários de um poente eterno.
Vou apanhar o metro sem saber qual o destino que me apanha. Parto sem partir, partindo por partir, e chegarei, se chegar, nunca chegando à vida que ambiciono chegar
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito original de 12 de Março de 2013, escrito na Estação do Metro do Marquês do Pombal, entre as 20H51 eas 20H24.
Postado no blogue, em 13 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H37 e as 13H57.
A solidão é este estado de imobilidades momentâneas que subvertem os rituais da vida, que se transformam em jogos de inseguranças, sem linhas transitórias, sem abafos que me resguardem deste frio interior que roça o âmago da alma que se esconde algures no cemitério das infâncias onde ela, bêbada de vida, resmunga contra os sentimentos da solidão que detesta, por saber que as duas são gémeas do destino que as vitima nos abraços solidários de um poente eterno.
Vou apanhar o metro sem saber qual o destino que me apanha. Parto sem partir, partindo por partir, e chegarei, se chegar, nunca chegando à vida que ambiciono chegar
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito original de 12 de Março de 2013, escrito na Estação do Metro do Marquês do Pombal, entre as 20H51 eas 20H24.
Postado no blogue, em 13 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H37 e as 13H57.
terça-feira, 12 de março de 2013
RITOS POÉTICOS - II - DOR DE MARÉ
Nas lareiras do passado
ardem palavras de sebo
lavrando no seu recado
as ideias claras de Febo
que, em anúncios de sede,
lavam a fome dos medos,
pálidas bocas de rede
que pescam os seus segredos
e desovam argumentos
no cosmos dos seus tormentos.
Com as lâminas da dor
se pincham velhas memórias
e com a salsa do amor
se dança ao ritmo das estórias
que rabiscam as comédias
dos que partem sem Orfeu
e dos que ficam sem rédeas
no jardim de Prometeu
onde o que fogo é
salga a dor de maré.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Postado, em 12 de Março de 2013, entre as 16H21 e as 15H50. na Biblioteca Nacional de Lisboa, e transcrito e corrigido do manuscrito de 07 de Outubro de 2011, escrito na Cinemateca Portuguesa. Inicialmente com o título: Poema LXXXIX.
ardem palavras de sebo
lavrando no seu recado
as ideias claras de Febo
que, em anúncios de sede,
lavam a fome dos medos,
pálidas bocas de rede
que pescam os seus segredos
e desovam argumentos
no cosmos dos seus tormentos.
Com as lâminas da dor
se pincham velhas memórias
e com a salsa do amor
se dança ao ritmo das estórias
que rabiscam as comédias
dos que partem sem Orfeu
e dos que ficam sem rédeas
no jardim de Prometeu
onde o que fogo é
salga a dor de maré.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Postado, em 12 de Março de 2013, entre as 16H21 e as 15H50. na Biblioteca Nacional de Lisboa, e transcrito e corrigido do manuscrito de 07 de Outubro de 2011, escrito na Cinemateca Portuguesa. Inicialmente com o título: Poema LXXXIX.
PASSAGENS DO TEMPO
Perder tempo! Tudo o que faço nesta vida de ermita é perder tempo.Entro no Metro, observo pessoas cheias de nada, ouço conversas a que sou alheio, saio do Metro, entro em um autocarro, vazio de pessoas, cheias de tudo o que nada é, ouvindo conversas que escorregam pelo tempo como se fossem moinhos moendo águas de pensamentos dispersos. A cidade, fria e chuvosa, passa por mim ou passo eu por ela comigo lá dentro, dentro de uma resposta que é a resposta de não haver. Abandono o autocarro e sinto uma saudade, não sei bem de quê. Caminho cansado de estar cansado com um cansaço que é esta distância de ver para lá do que não vejo. Sou uma simulação de tempo, um reformado que adormece o silêncio, reformado que acorda a idade de não a ter, por a ter perdido no longínquo abraço de uma despedida que se sauda a si mesma. A rua, esta rua por onde vou, sem ir, é um movimento opaco na transparência de tudo ver, vendo que a vida é uma floresta de diálogos que esconde no seu labirinto de metáforas, as metamorfoses de um eco que me murmura a idade feminina que envelheceu o vigor de uma manhã nocturna. Meu adeus! O tempo que perdi é a ciência exata que se vestiu com este tapete celular onde toda a inocência são pedaços de fome humana com que sacio este corpo que se arrasta pela idade de não a ter. Tudo o que resta é perder tempo. Tempo vestido de nada.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Postado entre as 13H17 e as 13h40 , em 12 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, a partir do manuscrito de 11 de Março de 2013, escrito na Estação do Metro da Baixa-Chiado, entre as 20H24 e as 20H45.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Postado entre as 13H17 e as 13h40 , em 12 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, a partir do manuscrito de 11 de Março de 2013, escrito na Estação do Metro da Baixa-Chiado, entre as 20H24 e as 20H45.
segunda-feira, 11 de março de 2013
RITOS POÉTICOS - I - TERRA VIRGEM DE AMOR
A divindade que nos espreita
as horas amargas do leito
é a cama de espinhos onde se deita
a esperança que nos agita o peito
e nos conquista sem defeito
a pureza da cor que nos espreita.
Somos terra virgem de amor
na planície de todo o espanto
e morderemos quem nos caia o pavor
para celebrarmos a beleza do canto
que nos une contra quem prega
a natureza do que se nega:
a alegria dos sorrisos, o silêncio do pranto.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito no Centro Cultural de Belém, em 27 de Novembro de 2011, e postado na Biblioteca Nacional de Lisboa, em 28 de Dezembro de 2011.
Postado, depois de revisto o seu manuscrito, em 11 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H21 e as 15H32.
as horas amargas do leito
é a cama de espinhos onde se deita
a esperança que nos agita o peito
e nos conquista sem defeito
a pureza da cor que nos espreita.
Somos terra virgem de amor
na planície de todo o espanto
e morderemos quem nos caia o pavor
para celebrarmos a beleza do canto
que nos une contra quem prega
a natureza do que se nega:
a alegria dos sorrisos, o silêncio do pranto.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito no Centro Cultural de Belém, em 27 de Novembro de 2011, e postado na Biblioteca Nacional de Lisboa, em 28 de Dezembro de 2011.
Postado, depois de revisto o seu manuscrito, em 11 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H21 e as 15H32.
A CORUJA E A PULGA
A coruja semicerra as pestanas de azeviche enquanto as suas pupilas memorizam os sinais exteriores de uma inteligência fugaz. A pulga que saltita de folha em folha disserta sobre as palavras que não ouve e explana, em frases de finíssimas filigranas, o conteúdo de existências banais e a longevidade dos seus silêncios inexplicáveis, à luz da condição humana. A coruja é a imaginação da lucidez e a, pulga, o veículo da sua arquitectura. A elasticidade da pulga é o forno de uma linguagem que a coruja decifra e arquiva nas ramificações dos seus mistérios. A revelação dos seus sinónimos é a semente do tempo que se vive.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Corrigido e copiado do original manuscrito, na Estação do Oriente, em 18 de Dezembro de 2011 e postado, em 19 de Dezembro de 2011.
Postado, neste blogue, em 11 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H32 e as 14H42.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Corrigido e copiado do original manuscrito, na Estação do Oriente, em 18 de Dezembro de 2011 e postado, em 19 de Dezembro de 2011.
Postado, neste blogue, em 11 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H32 e as 14H42.
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