terça-feira, 12 de março de 2013

PASSAGENS DO TEMPO

Perder tempo! Tudo o que faço nesta vida de ermita é perder tempo.Entro no Metro, observo pessoas cheias de nada, ouço conversas a que sou alheio, saio do Metro, entro em um autocarro, vazio de pessoas, cheias de tudo o que nada é, ouvindo conversas que escorregam pelo tempo como se fossem moinhos moendo águas de pensamentos dispersos. A cidade, fria e chuvosa, passa por mim ou passo eu por ela comigo lá dentro, dentro de uma resposta que é a resposta de não haver. Abandono o autocarro e sinto uma saudade, não sei bem de quê. Caminho cansado de estar cansado com um cansaço que é esta distância de ver para lá do que não vejo. Sou uma simulação de tempo, um reformado que adormece o silêncio, reformado que acorda a idade de não a ter, por a ter perdido no longínquo abraço de uma despedida que se sauda a si mesma. A rua, esta rua por onde vou, sem ir, é um movimento opaco na transparência de tudo ver, vendo que a vida é uma floresta de diálogos que esconde no seu labirinto de metáforas, as metamorfoses de um eco que me murmura a idade feminina que envelheceu o vigor de uma manhã nocturna. Meu adeus! O tempo que perdi é a ciência exata que se vestiu com este tapete celular onde toda a inocência são pedaços de fome humana com que sacio este corpo que se arrasta pela idade de não a ter. Tudo o que resta é perder tempo. Tempo vestido de nada.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Postado entre as 13H17 e as 13h40 , em 12 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, a partir do manuscrito de 11 de Março de 2013, escrito na Estação do Metro da Baixa-Chiado, entre as 20H24 e as 20H45.

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