quarta-feira, 10 de abril de 2013

VIAGEM TERNURENTA

A manhã é um verbo hesitante. O Metro é todo o tempo que o devora. Os seus olhos, perdidos na emancipação do dia, revelavam as carícias do seu segredo carnal. Verdes, como uma campina viçosa, as suas pupilas despertaram, em mim, uma súbita sociabilidade de tudo ser para que o seu corpo elegante, os seus lábios, rubros e sóbrios, se esmerassem em um sorriso acolhedor. A substância da vida é uma clara surpresa quando nos coloca diante de um momento festivo que poisa sobre a criação dos pensamentos e desabrocham no sentido estético de um olhar que me absolveu de todos os prantos que o silêncio consome. Acariciei o olhar, despi-me do seu brilho e, viajante urbano, viajei ternurento.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 10 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H10 e as 15H21.
Postado, no blogue, em 10 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H13 e as 16H24.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

CORPO SONETÁRIO - V - POR QUEM SOIS

Por quem sois, clorofórmio de amor
que desta vida nada leva a boca,
nem a cegueira que a oscula, oca,
nem a cerveja que a fisga co´ardor.

Por quem sois, trepadeira incolor
que toda entrançais por coisa pouca
no vespeiro que a traça esgana louca
ao amante do fausto e da dor.

Por quem sois, que tendes o dom da troça
que atiçais a quem por vós se roça
sob a razão do céu e do decote.

Por quem sois, que sendo farsa e chacota,
vil, derramais, estulta e devota,
o frenesim grotesco do fagote.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 08 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H56 e as 14H08.
Pensado entre as 21H00 do dia 06 de Abril de 2013 e as 23H00 do dia 07 de Abril de 2013, à noite e, em casa. Concluído na Biblioteca Nacional de Lisboa, em 08 de Abril de 2013, entre as 13H56 e as 14H08.
Postado, no bogue, em 08 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H00 e as 15h09 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

EXUBERÂNCIA TARDIA

O rolar tenso nas ruas da cidade desanuvia o ar que respiro, bafo sedento de vida marsupial. Escondido das raivas que os dentes trituram, passo pelo teu olhar sombrio e cravo, nele, o tradicionalismo romântico do amor inesperado. Tens o olhar do passageiro sedentário. Passas, observas e absorves o pássaro instantâneo que fotografas no seu voo de libertino inconsciente. Compreendo que assimilaste a metáfora que sou. Alegre, deslumbro os pensamentos com o sol radioso que, de ti, se desprende. Não falamos, nem conversámos. O diálogo fica para o tempo de solidão. Abraçados, nocturnamente, romperemos pela aurora dos sonhos e desenharemos, em miragens de sentimentos, a realidade de um amor que floresceu por entre as roturas doces de uma exuberância tardia. 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 04 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H15 e as 14H48.
Postado, no blogue, em 04 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H53 e as 15H04.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

RITOS POÉTICOS - VII - SOMOS O QUE SOMOS

Caminhamos jovens, velhos,
queixúmes de subtilezas
p´ra apagarmos às tristezas
os cacos dos vis espelhos,
pedaços de carne viva,
segredos de alma cativa
que a Morte nos arquiva
p´ra sermos memórias fúteis
em lavas de tempo, inúteis
por sabermos que a vida
é uma visão esquecida,
boca trémula que grita
contra a dor que nos agita
entre os dedos de uma fera
que devora à noite antiga
a ilusão de uma espera
com a raiva da cantiga
que todo o vento mastiga
para em sonhos de verdade
cuspir o fogo da idade
e sorrir à mão amiga
que afaga a espiga
e nos aquece a vontade
de sermos tudo o que somos
no sumo claro dos gomos.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 03 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H20 e as 14H58.
Postado, no blogue, em 03 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H07 e as 15h26.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A MINHA PÁGINA DE FACEBOOK

A vida, em cada dia que passa, revela-nos, na sua face oculta, os moinhos da decadência e da impraticabilidade de uma Liberdade que só a Natureza verdadeiramente possui. Por motivos que só o mistério de uma censura, mesquinha e hipócrita, que se instalou nos canais do digitalismo computorizado, vi-me privado de ter acesso à minha página do Facebook. O caso será divertido para uns quantos seres humanos que se diagnosticam como humanos, sendo, porém, na verdade, não mais do que os defensores desta azia que se vai instalando nos circuitos dos relacionamentos, ditos humanos. Por isso, o caso não é, realmente, uma brincadeira, é uma vergonha tinhosa e própria dos que ostentam a boca suja dos que falam a linguagem disfarçada por uma seriedade que não passa de uma mentira indecorosa e reflectora de uma indigência mental, cuja a afinidade com poderes ocultos lhes permitem barrar, mas não silenciar quem sabe lutar contra os que, sinistramente, se movem nas teias do seu obscurantismo vigarista.
Não me vergo, nem me vendo seja a quem for. A Verdade não é a sua Mentira eterna. O Futuro a confirmará.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 01 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H39 e as 15H09.
Postado, no blogue, em 01 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H34 e as 15H49.