quarta-feira, 20 de março de 2013

BURLESCO

Sou ugly no espelho da manhã, diariamente, que sei eu? Abro, aos olhos da sonolência vadia, as cortinas do tempo, e absorvo os fotogramas solares que me beijam a pele nua. É uma sensação agradável que se mistura com o sentido desagradável dos caminhos perpétuos que palmilho sob a sofreguidão desta idade que me espezinha o limite das fronteiras onde habito e desfruto da pigmentação que me harmoniza a instabilidade emocional. Abro o chuveiro da irrealidade, e, realisticamente, esfrego o corpo com o sabonete do rejuvenescimento, despedindo-me das dores que me corroem a integridade, física e mental. Sou o pavio aceso de um fósforo apagado, e espalho a luz da minha consciência pelas hipérboles nocturnas do tecido carnal que expôem, à espiral do desejo, as colheres vitaminadas com as delícias orgânicas do tempo que, vivificadoras, me decompôem a acidez portuária da existência, cujo fluxo é a degeneração desta vida filtrada pelos poros da suavidade burlesca. Ugly, burlesco, que melhor sentido se pode oferecer ao sentidos que sem sentido tudo sentem. 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 01 de Novembro de 2011, escrito no Centro Cultural de Belém.
Revisto e postado, em 20 de Março de 2013, na Biblioteca de Lisboa, entre as 13H47 e as 14H09.

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